Crianças feridas no incêndio que matou quatro pessoas no Lar Paulo de Tarso, no Ipsep, na Zona Sul do Recife, na madrugada desta sexta (14), tiveram os pulmões queimados. Segundo o diretor do Hospital da Restauração (HR), na área central da cidade, elas inalaram muita fumaça.
O principal problema das vítimas é a inalação de fumaça, já que elas não tiveram grandes partes do corpo queimadas. A que mais foi afetada externamente teve queimaduras em 30% do corpo, na face e pés.
Entretanto, o médico Petrus de Andrade Lima informou que, mesmo sem ter muitas partes do corpo afetadas, os feridos estão em estado grave.
Ao todo, 17 pessoas foram atingidas pelo incêndio, sendo duas mulheres e 15 crianças. Treze ficaram feridas. Uma das pessoas mortas é a cuidadora Margareth da Silva, de 62 anos. Também morreram duas meninas e um menino, que não tiveram nomes e idades divulgados.
Dez crianças foram levadas ao HR, mas duas chegaram mortas. Outras duas foram transferidas para o Hospital Brites de Albuquerque, em Olinda. As seis que ficaram internadas na Restauração precisaram ser intubadas.
Outras cinco pessoas, incluindo uma cuidadora, foram atendidas no Hospital Geral de Areias, na Zona Oeste.
Segundo testemunhas, as vítimas do incêndio estavam em dois quartos do abrigo, que tem capacidade para 20 crianças em situação de risco social. Elas são encaminhadas pela Justiça ou pelos conselhos tutelares.
O fogo se concentrou na sala, onde, segundo a direção, pode ter havido um curto-circuito. As crianças ficaram confinadas, inalando fumaça.
"A fumaça nos traz dois grandes problemas. O primeiro é a temperatura elevada, que pode levar a literalmente uma queimadura das vias aéreas, dos pulmões. O segundo é a intoxicação, que pode ser por monóxido de carbono ou outros elementos que terminam envenenando o sangue", afirmou o diretor do HR.
Todas as vítimas internadas no HR receberam oxigênio e algumas delas foram intubadas. O médico Petrus de Andrade Lima disse que as primeiras 48 horas depois do incêndio são as mais críticas e instáveis, porque as vítimas podem piorar rapidamente.
"As crianças estavam muito assustadas. As que chegaram conscientes explicaram tudo o que percebemos na avaliação clínica. Elas ficaram fechadas, porque o fogo estava na porta e impediu a saída delas. Ficaram confinadas em um ambiente, respirando bastante fumaça", declarou.
A equipe médica informou que as vítimas serão mantidas aquecidas, porque a baixa na temperatura pode piorar o estado de saúde. O diretor do HR disse que a inalação de fumaça é "tão ou mais grave que as queimaduras externas".
"A baixa da temperatura, seja adulto, mas principalmente das crianças, está associada a uma maior mortalidade. Então, precisamos prevenir que essas crianças baixem a temperatura. É um volume muito grande de pacientes, de crianças, que já estavam num abrigo, algumas longe das famílias e passaram por uma situação dessa. É muito sofrido, mexe com todo mundo", declarou o médico.