

A introdução alimentar é frequentemente percebida como uma fase que se inicia após os seis meses de vida do bebê, quando a amamentação exclusiva deixa de suprir sozinha as necessidades nutricionais.
No entanto, segundo especialistas, esse processo pode — e deve — começar ainda durante a gestação.
O comportamento alimentar da mãe tem papel relevante na formação do paladar do feto, influenciando a aceitação de sabores e a relação da criança com a alimentação no futuro.
A recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é que os bebês sejam alimentados exclusivamente com leite materno até os seis meses. A partir de então, alimentos complementares devem ser introduzidos de forma gradual, mantendo-se a amamentação até pelo menos os dois anos de idade.
“O desenvolvimento de hábitos alimentares saudáveis de uma criança começa, na verdade, dentro da barriga. Durante a gestação, o feto é exposto a moléculas palatáveis dos alimentos consumidos pela mãe, o que pode influenciar a aceitação de sabores no futuro e a relação da criança com o ato de se alimentar”, explica a pediatra Gabriela Oliani, da Santa Casa de São Roque — unidade administrada pelo CEJAM (Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim”).
Segundo dados do UNICEF, quase 45% das crianças entre 6 meses e 2 anos não consomem frutas ou vegetais com frequência, o que compromete seu desenvolvimento saudável.
“A dica é que a mãe comece a estimular o paladar do bebê já durante os nove meses de gestação. Ou seja, para as mamães que não possuem hábitos saudáveis, a introdução alimentar precisa começar por elas”, afirma.
A alimentação vai além da função nutricional. Segundo Gabriela Oliani, é também um ato de construção de vínculo.
Desde os primeiros momentos de vida, o alimento está associado à relação da criança com a mãe e à rotina familiar.
A especialista alerta ainda que um ambiente conturbado nas refeições pode impactar negativamente o comportamento da criança diante da comida.
“Quando o momento da refeição é conturbado, sem rotina, marcado por pressões, recompensas ou punições, aumentam os riscos de fobias ou transtornos alimentares, e até mesmo problemas emocionais duradouros”, diz.
O Ministério da Saúde aponta que mais de 3,1 milhões de crianças de até 10 anos convivem com a obesidade no Brasil.
Entre os fatores que contribuem para esse cenário está a introdução precoce de alimentos ultraprocessados, como sucos adoçados e produtos ricos em açúcar, sal e gordura.
Segundo a pediatra, esse tipo de alimentação está cada vez mais presente nas famílias brasileiras, inclusive em contextos de vulnerabilidade social, onde o acesso a alimentos naturais é limitado.