Até o início da pandemia, em março de 2020, ela costumava atuar como enfermeira durante eventos e festas. "Foi uma mudança brusca, mas necessária. [...] Eu procuro mostrar a nossa rotina porque as pessoas pensam que trabalhar em UTI móvel é mais fácil, mas é muito difícil, muito desgastante", disse.
A enfermeira trabalha no esquema de plantão de 12 horas, mas disse que já chegou a cumprir jornadas de 36 horas seguidas de trabalho, devido à alta demanda de transporte de pacientes. A empresa onde ela atua é uma das que têm contrato com o governo do estado para transportar infectados pelo novo coronavírus.
Cada equipe conta com um condutor da ambulância, um médico e um enfermeiro. Os três seguem viagens que, por vezes, cortam o estado. "A Central de Leitos do Estado liga para a empresa, passa as informações e vamos buscá-los, correndo contra o tempo. Geralmente, o destino é a capital, onde há mais disponibilidade de leitos", contou.
De acordo com a empresa, em maio deste ano, entre as cidades com maior número de pacientes removidos para o Recife, estão Caruaru, Limoeiro, Feira Nova e Bom Jardim, no Agreste; e Timbaúba, na Zona da Mata.
Segundo Juliana, o que mais tem chamado a atenção dos profissionais é a idade das pessoas atendidas. "No ano passado, atendemos muitos idosos. Neste ano, estamos vendo muitas pessoas jovens precisando de internação. Pessoas de 30, 20 e poucos anos. Atendi um garoto de 13 anos", afirmou.
Ela disse que, na equipe da empresa, ao menos dois colegas de trabalho faleceram devido à Covid-19. "É muito triste porque estamos cansados e nos desanima ver atitudes contrárias às indicadas. Mas a nossa missão é salvar vidas, dando sempre o nosso melhor. Enquanto houver esperança de vida, vamos lutar", declarou.
Em 30 de maio, o Conselho Regional de Medicina em Pernambuco (Cremepe) havia solicitado, ao governador Paulo Câmara (PSB) e aos prefeitos de todas as cidades do estado, medidas mais rigorosas para conter a pandemia no estado.
De acordo com o Cremepe, a exaustão dos profissionais de saúde preocupa a entidade, pois vem reduzindo a chance de se ter escalas de plantão completas para assistir adequadamente os doentes.
Nesta segunda-feira (14), começaram a valer novas regras do plano de convivência com a Covid-19 em Pernambuco, com quarentena rigorosa em 35 cidades do Sertão e com liberação de parte das atividades que estavam restritas na Zona da Mata, no Grande Recife e no Agreste.
Socorrista e condutor do Samu Héverton Silveira enfrenta dificuldades no transporte de pacientes devido ao trânsito — Foto: Reprodução/TV Globo
Segundo o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), há quatro meses a média de socorros feitos pela equipe é de 1.350 atendimentos mensais, o que corresponde a 35 viagens por dia. Para o condutor e socorrista Héverton Silveira, um dos maiores problemas no transporte dos pacientes é o trânsito caótico da Região Metropolitana do Recife.
"Especificamente essa doença que é respiratória, há uma dificuldade maior tanto para vítima quanto para a gente, que quer chegar o mais rápido. Muitas vezes, tem a dificuldade do trânsito, que causa uma demora para chegar ao hospital", relatou. Segundo ele, alguns motoristas não respeitam o alerta da sirene que indica urgência.
Samu informou que faz uma média de 35 atendimentos diários há quatro meses — Foto: Reprodução/TV Globo
“Quando o Samu e outras viaturas de unidades particulares estão com sirenes ligadas, é porque estão em ocorrência e alguém está precisando realmente do nosso suporte. Amanhã ou depois, pode ser esse motorista ou um parente, um filho, que vai precisar do nosso socorro”, declarou Silveira.
De acordo com o Código Brasileiro de Trânsito, comete infração gravíssima o motorista que não deixa a faixa da esquerda livre para a passagem de carros de socorro com a sirene e a luz ligadas. A infração gera uma multa de R$ 293,47, além de sete pontos na Carteira Nacional de Habilitação (CNH).
Nesta segunda-feira (14), Pernambuco registrou 1.117 novos casos da doença, além de 32 mortes causadas pelo novo coronavírus. Ao todo, o estado contabilizou 520.694 infectados e 16.860 óbitos pela doença. Os números começaram a ser registrados em março de 2020.